sábado, 17 de maio de 2025

No trono de Deus



SERÁ QUE IDOLATRAMOS ALGO OU ALGUÉM SEM PERCEBERMOS?

É complexo falar de idolatria com todo o mundo a pensar em "pedaços de madeira" que têm ouvidos mas não ouvem, e têm pés mas não andam (Sl 115:5-7). Sinceramente, assim não teria sentido ler 1Jo 5:21: "Filhinhos, guardar-vos dos ídolos". Entretanto, quando deixamos de lado os aspectos ritualista ou materialista da idolatria, deparamo-nos com verdades espirituais que chegam a ser assustadoras em nossos dias.

Quando admiramos de forma fanática os cantores os shows gospel, quando observamos a imitação de estilos de pregação de evangelistas famosos, quando vemos uma avó "apaixonada pela netinha linda" e um "cuidadoso" dono de veículo novo a chorar o pequeno arranhão, não podemos deixar de pensar sobre a moderna idolatria: o ídolo dentro do nosso coração.

Uma das mais fortes e inesquecíveis cenas de idolatria na Bíblia é a do bezerro de ouro, narrada em Exodo 32. A cena chega a doer, grotesca e blasfema que é. Ficamos perplexos com a atitude de Arão. Observe: Moisés, "como sempre", estava demorado. O povo já estava inquieto, e de inquieto, o povo sentiu-se inseguro. A insegurança assolou aquelas pessoas porque elas confiavam na presença de Moisés - e não na presença de Deus. O povo não descansa em Deus, mas quer uma providência divina.

Observamos que a idolatria surgiu da incerteza, da falta de confiança em Deus, do depositar a confiança no que se vê. Neste acontecimento, eles perguntavam: "Onde está Moisés?" Como Moisés tardava em descer do monte Sinai, o povo fez um bezerro de ouro para crer e adorar.

Na verdade, essa forma de liderar o povo tem-se proliferado. "Para quê consultar a Deus? É mais fácil copiar os modelos que estão a surgir!", pensam alguns. Este pensamento não teria sido resultado da aparência sumptuosa do sucesso ministerial de alguns? Essa aparência é, sem dúvida, a base da idolatria, pois reduz a glória de Deus em "semelhança de" (Rm 1:23). E é essa "semelhança de" que substitui a pessoa de Deus. Pensamos assim: "Ora, se há (ou se temos)... é porque Deus está connosco". Ou, na linguagem de Ex 32, "se há um deus, nem que seja um bezerro, nos sentimos melhor, estamos seguros."

Queremos frutos? Sim. Os frutos são traduzidos em sucesso material? Não necessariamente, mas quase sempre necessariamente não!

Nos dias de hoje é meio improvável imaginarmo-nos, cristãos que somos, prostrados em adoração diante de um "pedaço de madeira". Contudo, é bastante comum vermos coisas e pessoas tomando o lugar de Deus em nossa vida ou coração. Afinal, porque tanto apelo à prosperidade material? Evidente é que nós queremos o visível, queremos o palpável, queremos o que é certo e seguro, não um Moisés que não sabemos o que lhe sucedeu! Atentar para o que é visível é desobedecer a recomendação de Paulo em 2Co 4:18, pois as coisas que se vêem não são eternas. Assim é fácil: se for para viver por vista, nem precisa ser crente!

Vamos pensar um pouquinho: "Meu apartamento. Meu carro. Meu emprego. Meu sucesso. Meu filhos. Meu... meu... meu... Parece-me não ser difícil ver que Deus foi substituído por coisas palpáveis, coisas que nós controlamos. Deus ficou de lado, foi troca por coisas temporais, passageiras. Não será essa a forma moderna e a mais sorrateira de idolatria?

O apóstolo Paulo afirma em Cl 3:5 que avareza é idolatria. Interessante, não é? Querer reter, segurar, não abrir mão é entronizar o objecto, tornando-o ídolo.

Poderíamos mencionar algo sobre os aspectos psicológicos do apego a alguém ou a alguma coisa. Quem sabe uma neurose, uma fuga, uma sublimação. Talvez projectamos naquele ou naquilo uma série de desculpas. Para Deus, inquestiona-velmente, ou Ele é o centro ou não existe Ele! Ou Ele é o único ou Ele nem está: a sua glória, Deus não dá a ninguém! (Is 42:8). Por isso é que não dá para falar em "um pé na igreja e outro no mundo". Onde já se viu Deus aceitar a metade? Dividir a casa com o maligno?

É triste, mas parece que a media materialista e consumista está a funcionar contra a Igreja do Senhor. Quantos caíram no "conto do vigário", deixando de almejar e lutar por ideais, alvos espirituais, carácter, enfim, por valores não-materiais. Na linguagem de Hb 12:3,4, cansaram sem terem ainda resistido tudo o que podiam. Com a atual sobrecarga dos media e a tão pouca conspiração cristã, fica difícil indentificar como enveredar pelo melhor caminho.

Francamente quando assumiremos que não somos deste mundo? Em 1Tm 6:7 diz que nada trouxemos para este mundo e nada podemos daqui levar. Precisamos lutar contra toda a idolatria, toda sobrevalorização de tudo que esteja a conspirar contra o lugar devido somente a Deus.

Quem quiser ganhar aqui esta vida, vai perder a que tem mais importância: a vida eterna. Lembro ainda a conhecida lição de Abraão: por mais importante que a coisa ou a pessoa seja para nós, o seu lugar é em cima do altar, a exemplo de Isaac, que foi ofertado a Deus, como sacrifício. Esposa, mãe, neto, cão, carro, casa, profissão, o que for: o lugar é no altar, nunca no coração. Se estiver no lugar errado, é ídolo.

Nils Alberto de Gusmão Bergsten

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