terça-feira, 3 de novembro de 2015

o sofrimento do crente

Lucinda Alves

Quando o povo de Israel saiu do Egipto, Deus os salvou com Mão Forte e Braço Estendido, com Coluna de Fogo de noite e Nuvem de dia. Como figura da salvação passam o Mar Vermelho (lit. mar dos juncos). Dali Deus tinha diversas rotas para os conduzir até ao Sinai para receberem a Lei e finalmente entrarem em Canaã.

Figuradamente compreendemos que para sairmos do Egipto (vida dos descrentes não salvos) não podemos chegar à nossa "Canaã" sem passarmos pelo mar (a nossa salvação, do qual o baptismo é figura) e sem vivermos de acordo com a Lei de Deus (o Sinai). Curiosamente, entre o Egipto e Canaã está um imenso deserto e viver a Lei de Deus implica o deserto.

Após a passagem do mar, Deus não os leva pelo caminho mais fácil, a via maris, o caminho dos filisteus.

Êx 13.17 Ora, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não o conduziu pelo caminho da terra dos filisteus, se bem que fosse mais perto; porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte para o Egito;
Êx 13.18 mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho; e os filhos de Israel subiram armados da terra do Egito.

Êx 14.10 Quando Faraó se aproximava, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios marchavam atrás deles; pelo que tiveram muito medo os filhos de Israel e clamaram ao Senhor:
Êx 14.11 e disseram a Moisés: Foi porque não havia sepulcros no Egito que de lá nos tiraste para morrermos neste deserto? Por que nos fizeste isto, tirando-nos do Egito?
Êx 14.12 Não é isto o que te dissemos no Egito: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto.

A Fé imatura de Israel transparece imediatamente, apesar de uma tão grande salvação! O povo queixa-se da dificuldade da vida fora do Egipto, quando lá eram escravos e eram oprimidos. E todo o percurso no deserto é repleto de murmurações, desobediências e até idolatria, no caso do bezerro de ouro, enquanto Moisés recebia a Lei no Sinai.

Porque Deus leva o povo por um caminho, sem comida, sem água, com serpentes e dificuldades?
Deus tira o povo da fornalha do Egipto para Ele mesmo ser o seu fogo purificador. É a figura do metal que precisa ser purificado. O Egipto não era o forno adequado para purificar, por isso YHWH se torna o fogo que purificará Israel na fornalha do deserto.

Dt 4.20 Mas o Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, a fim de lhe serdes um povo hereditário, como hoje o sois.
Dt 4.21 O Senhor se indignou contra mim por vossa causa, e jurou que eu não passaria o Jordão, e que não entraria na boa terra que o Senhor vosso Deus vos dá por herança;
Dt 4.22 mas eu tenho de morrer nesta terra; não poderei passar o Jordão; porém vós o passareis, e possuireis essa boa terra.
Dt 4.23 Guardai-vos de que vos esqueçais do pacto do Senhor vosso Deus, que ele fez convosco, e não façais para vós nenhuma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa que o Senhor vosso Deus vos proibiu.
Dt 4.24 Porque YHWH vosso Deus é um fogo consumidor, um Deus zeloso.
São muitas as passagens onde se refere que Deus provou o povo intencionalmente:

Êx 15.25 Então clamou Moisés ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, e Moisés lançou-a nas águas, as quais se tornaram doces. Ali Deus lhes deu um estatuto e uma ordenança, e ali os provou,

Êx 16.4 Então disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover pão do céu; e sairá o povo e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu o prove se anda em minha lei ou não.

Êx 20.20 Respondeu Moisés ao povo: Não temais, porque Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis.

Dt 8.2 E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.

Dt 8.16 que no deserto te alimentou com o maná, que teus pais não conheciam; a fim de te humilhar e te provar, para nos teus últimos dias te fazer bem;

Deus quer saber, se em tempos de dificuldade, de deserto dificil, o seu povo irá obedecer-lhe ou não e Ele quer ensinar ao seu povo que apenas Ele é Deus. Aqueles que dizem ser seus servos e filhos devem obedecer-lhe sem murmurar.

Curiosamente quando chegaram à Terra Prometida, quando o tempo do deserto terminara, Israel recusa-se a entrar porque para isso teria de lutar. A consequência foi fatal e vaguearam mais quarenta anos no deserto até morrer toda aquela geração murmuradora e incrédula.

Nm 14.2 E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e Arão; e toda a congregação lhes disse: Antes tivéssemos morrido na terra do Egito, ou tivéssemos morrido neste deserto!
Nm 14.3 Por que nos traz o Senhor a esta terra para cairmos à espada? Nossas mulheres e nossos pequeninos serão por presa. Não nos seria melhor voltarmos para o Egito?
Nm 14.4 E diziam uns aos outros: Constituamos um por chefe o voltemos para o Egito.
Nm 14.5 Então Moisés e Arão caíram com os rostos por terra perante toda a assembléia da congregação dos filhos de Israel.
Nm 14.6 E Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes;
Nm 14.7 e falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra, pela qual passamos para a espiar, é terra muitíssimo boa.
Nm 14.8 Se o Senhor se agradar de nós, então nos introduzirá nesta terra e no-la dará; terra que mana leite e mel.
Nm 14.9 Tão somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão. Retirou-se deles a sua defesa, e o Senhor está conosco; não os temais.

Nm 14.20 Disse-lhe o Senhor: Conforme a tua palavra lhe perdoei;
Nm 14.21 tão certo, porém, como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá toda a terra,
Nm 14.22 nenhum de todos os homens que viram a minha glória e os sinais que fiz no Egito e no deserto, e todavia me tentaram estas dez vezes, não obedecendo à minha voz,
Nm 14.23 nenhum deles verá a terra que com juramento prometi o seus pais; nenhum daqueles que me desprezaram a verá.
Nm 14.24 Mas o meu servo Calebe, porque nele houve outro Espírito, e porque perseverou em seguir-me, eu o introduzirei na terra em que entrou, e a sua posteridade a possuirá.

Que grande ensinamento podemos tirar!

Quando finalmente estamos diante da concretização da Promessa, diante da nossa Terra Prometida, quantas vezes não a reconhecemos, recusamo-nos a lutar e voltamos ao deserto!

Lamentavamos a privação do deserto, mas não reconhecemos a nossa Canaã, porque pensamos que tem de ser fácil e de acordo com o que tinhamos imaginado!

O caminho para Canaã é porém duro e cheio de provações e a Terra precisa ser conquistada! Muitos preferem o Egipto e voltar à vida sem Lei e sem provações ou lutas...

Embora Deus faça provisão de maná quando não há comida e dê água da rocha ao seu povo, essas privações, dizem as Escrituras, foram provas de Deus para purificar o seu povo.

Não quero defender que todo o sofrimento provém de Deus, de modo algum!

Mas temos de discernir aquilo que vem da oposição satânica à nossa vida (os gigantes da terra com quem temos de lutar) e a provação que tem origem divina para nos provar.

Muitas vezes recusamos tanto a provação de Deus como a luta com o inimigo.

Para com o inimigo temos a responsabilidade de lutar com as armas que as Escrituras nos ensinam: o nome de Yeshua (Jesus), a Palavra (espada do Espírito), reconhecendo a autoridade que nos foi dada sobre toda as forças das trevas.

Para com a provação divina devemos humilhar-nos e não fugir da purificação e vontade e Deus para nós. O homem tende a fugir do sofrimento, mas na fuga só encontra mais sofrimento, pois é melhor estar na fornalha de Deus que na fornalha do Egipto. É melhor a correção do Pai que nos ama, que dos senhores do Egipto que nos detestam ou o nosso próprio caminho.

Por vezes parece que o sofrimento é tal que não vamos conseguir suportar. Mas em vez de clamar a Deus para nos tirar do fogo, devemos orar para que consigamos permanecer no fogo até o objectivo divino em nós se concretizar.

Pensemos que uma Grande Tribulação virá sobre a Terra e quem subsistirá?!

Cada ofensa diária é um pequeno treino para o dia da grande provação.

Se conseguir perdoar uma pequena ofensa, e amar aquela pessoa que me ofende, então virá uma maior para eu aprenda a amar, apesar da grande ofensa. Assim somos purificados para resistirmos no dia mau, como está escrito: "Se enfraqueces no dia da angústia, a tua força é pequena." (Pv 24.10 ).

Cada vez que procuramos fugir da sua Lei (a sua vontade), que é dada no deserto e nos recusamos a obedecer, estamos a procurar salvar a nossa vida por nós mesmos.

Mt 10.39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.
Mt 10.38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.

Mt 6.12 e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores;

Jo 12.25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.

Cada vez que escolhemos a nossa vontade, por pensarmos que aí nos livraremos do sofrimento, concluiremos mais tarde que não há pior sofrimento que sair da Mão de Deus. A nossa vontade conduzir-nos-á a mais "quarenta anos de deserto" e poderemos nunca alcançar a Terra Prometida, morrendo no deserto da nossa própria vontade.

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