Desde a criação do Homem, o medo é um sentimento que se faz presente. Depois de ter desobedecido a Deus, Adão sentiu medo (Gn 3:9,10).
As primeiras manifestações de medo aparecem logo após o nascimento. Inicialmente, ele se constitui numa defesa da própria natureza para a preservação da pessoa, mas pode chegar a ser uma terrível barreira ao desenvolvimento saudável da personalidade. É fundamental considerarmos os nossos medos e identificá-los para termos condições de vencê-los, lembrando que devemos contar com a ajuda imprescindível de Jesus nesta difícil tarefa.
Vamos direccionar esta reflexão para os medos que a partir das nossas preocupações ganham forma e interferem diretamente a nossa maneira de agir e ser. Para comprendermos melhor os fenómenos que podem nos atingir, veremos, de maneira simples, alguns termos:
Medo - É o temor específico, concreto e objectivo perante algo que, de alguma forma, aproxima-se de nós, trazendo inquietude e alarme. É a percepção de um perigo real que nos ameaça, como é o caso de uma esposa que está com muito medo porque o seu marido perdeu o emprego. "O que acontecerá agora?", pensa, em sinal de preocupação.
Ansiedade - É o estado subjectivo de temor ante algo abstrato vago, indefinido. Caracteriza-se por uma sensação de alerta, um sentimento forte com expectativa de que o pior vai acontecer. É o que acontece, por exemplo, com aquela mãe que procura fazer o melhor para os seus filhos e ainda assim fica muito ansiosa por doenças ou acidentes que poderão ocorrer a eles. Esses pensamentos são, às vezes, tão intensos que levam a mãe à angústia extrema.
Angústia - É o temor vago, abstracto, que se percebe pelo padecimento intenso, desconsolo e agonia. Trata-se de situações de iminente desgraça ou perigo.
Assim, numa interpretação quantitativa dos fenómenos, encontramos níveis de desassossego e de crescente comprometimento com esses sentimentos.
A ansiedade antecipada corresponde ao medo do medo. O medo propriamente dito não está em enfrentar as situações tão "temidas", mas em enfrentar sintomas físicos e psicológicos desagradáveis que foram vividos intensamente. O medo é de que eles voltem a se manifestar. Situações adversas, causadoras de crise de pânico, acabam por criar condicionamento, que por sua vez podem levar o estado fóbico. Para exemplificar este tipo de ansiedade podemos citar o caso de uma mulher que foi ameaçada de assalto ao parar o seu carro um semáforo de cruzamento Na ocasião, ela teve muito medo e sentiu um mal-estar com forte diarreia. Agora, sempre que precisa passar pelo cruzamento, ela sente medo do mal-estar e da diarreia.
Algumas pessoas, certas de que estão acometidas do chamado síndrome do pânico, buscam tratamento psicológico. Porém, nem sempre o que estão de facto a vivenciar é caracterizado como tal. O auto-diagnóstico é perigoso. O síndrome de pânico, bem como a ansiedade e angústia exageradas, merecem a atenção de um médico especialista para uma avaliação correcta e tratamento adequada.
Em nosso dia-a-dia nos deparamos com situações novas. E muitas vezes não sentimos segurança para agir acertadamente. Esta insegurança pode ter origem na infância. Como pais, preparamos a criança para encarar as situações novas como desafios. Nossos filhos precisam desenvolver bases sólidas espirituais, mentais, físicas e emocionais através de palavras, mas sobretudo através do que é vivenciado em casa. Dependendo de como criamos os nossos filhos, estaremos formando futuros adultos sobressaltados, inquietos e inseguros, já que a personalidade foi marcada por experiências emocionais intensas de medo, ansiedade e angústia. Para conseguirmos algo das crianças, por exemplo, utilizamos argumentos que produzem medo: "Se não comeres toda a comida, o «bicho papão» vem pegar-te!" No entanto, devemos ensiná-lasa crer em Jesus, contando a elas histórias dos heróis bíblicos, que venceram porque confiaram no poder de Deus.
Reconhecermos a nossa limitação, aceitando o cuidado do Senhor para a nossa vida é a receita ideal para vencermos o medo. A Bíblia é rica em exemplos de circunstâncias difíceis e embaraçosas, em que os homens perceberam o alto valor de depositar toda a confiança somente em Deus. Todos contemplaram a vitória sobre o medo.
"Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me!" (Mt14:30). O apóstolo Pedro, sentiu grande medo, pois estava a afundar no mar. Soube, no entanto, recorrer à pessoa certa: Jesus! Bastou fixar os olhos no Mestre para que tivesse vitória. O medo, a ansiedade, e a angústia, persistem sempre que os nossos olhos estão fixos nos problemas e situações que nos apavoram.
Vamos experimentar fixar os nossos olhos em Jesus, ou seja, confiar no seu poder ilimitado e abrangente para atuar em qualquer circunstância assustadora. "Lançando sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós" (1Pe5:7). É preciso crer, entregar tudo ao Senhor, esperar e descansar na certeza de que Ele nos ouve (Sl 37:5). A Palavra, em Fp 4:6 adverte-nos a não estarmos inquietos por coisa alguma, mas, através da oração, fazer conhecidas a Deus todas as nossas necessidades.
Artigo escrito por Sónia Pires Ramos
Revista Seara, Setembro 1998, p. 27