sábado, 28 de setembro de 2019

'Religião e política se misturam desde sempre', afirma teólogo


Se acha que religião é uma experiência privada em que simplesmente um ser humano tem uma conexão com o divino, então não faz sentido misturar religião com política. O problema é que religião não é só isso. Religião é principalmente uma questão de identidade, muito mais do que de fé ou prática. Quando alguém diz “sou muçulmano” ou judeu ou cristão, está a formular tanto uma definição de sua fé quanto uma definição de sua identidade. Está a falar sobre quem é, como vê o mundo, como compreende o seu lugar nele. Em questão de identidade, religião é profundamente entrelaçada com todos os outros aspectos da identidade de uma pessoa: cultura, etnia, género, orientação sexual, e, claro, orientação política. Então simplesmente não faz sentido divorciar religião da política. Fazer isso não é democrático. É óbvio que podem haver problemas, especialmente uma vez que religião diz muito respeito a “mandamentos”, enquanto a política (pelo menos em teoria) supõe-se ser a respeito de compromissos. Mas, se o Estado oferecer liberdade de culto, então não se pode esperar que a religião se separe da política. De todo modo, é preciso assegurar protecções para aqueles que não compartilham da religião maioritária ou que não têm nenhuma religião.

Apenas uma visão ingénua ou excessivamente laicizada refutaria o modo entrelaçado com que religiosidade e política se misturam. Desde o século XVI, para não retroagirmos tanto, são muitos os exemplos de uma relação imbricada entre crenças e posicionamentos políticos.

A fé, mais do que fenómeno individual, é manifestada colectivamente e, portanto, está na vida pública.

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