“Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua oração, mas o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal. Quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem? Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes. Não temam aquilo que eles temem, não fiquem amedrontados.” (1 Pedro 3.12-14)
É importante entendermos no que estamos a crer. Pois talvez alguém acredite que Pedro está a afirmar que “tá tudo dominado”! Como costumamos dizer, de forma genérica e sem claramente considerarmos o significado, “Deus está no controlo”. E, sendo assim, tudo dará certo para os justos e os injustos vão se dar mal. O justo vai orar e Deus vai atender, ao contrário dos que praticam o mal que enfrentarão o desprezo de Deus. E, comprometidos em fazer o bem, nenhum mal vai nos alcançar. Não creio que fossem essas as convicções do apóstolo ao escrever essa carta. Ele mesmo sofreu prisões e enfrentou injustiças. O que ele então estaria afirmando com o que disse e como devemos compreender sua mensagem? O que devemos esperar de Deus no curso de nossa vida e que certezas podemos ter?
À luz do Evangelho, diante do que Jesus nos ensina e considerando o significado das Escrituras como fonte de revelação para nós, creio que o apóstolo está a incentivar-nos a olhar para a vida com esperança, seguros quanto ao cuidado de Deus, mesmo quando formos atingidos por sofrimentos. Sua mensagem não é triunfalista e muito menos ufanista. Podemos ter certeza de que Deus vê, sabe e não confunde pessoas comprometidas com o que é justo com pessoas que acostumaram-se a praticar o mal. Não nos ocultamos de Deus com nossas palavras e o facto de ninguém saber não significa que Deus não saiba. Todavia, como Deus reage diante da vida? Ele tem um jeito muito próprio. Nosso padrão de justiça não atende Seus critérios. Não concordaremos com Ele muitas vezes e pode ser que Seu silêncio ou omissão a respeito de algo nos pareça inaceitável. Mas somos desafiados a confiar em Deus. Mesmo praticando o bem, podemos nos dar mal nesse mundo de injustiças. Mas isso não deve abalar nossa certeza de que Deus sabe bem o que está a fazer.
Esse é um lado difícil de nossa fé: não podemos controlar Deus e fazê-lo corresponder aos nossos anseios. Jesus disse que teríamos aflições neste mundo (Jo 13.33). Nosso chamado é para confiar e manter o ânimo. Não nos desesperarmos. É certo que há muitas bênçãos em nossa vida, há muitos milagres presentes no quotidiano, muitos mesmo, que nem vemos. Deus é sempre muito gracioso e está por perto. Mas as dores e frustrações fazem muito barulho aos nossos ouvidos. Somos orientados pelo apóstolo a lidar bem com a vida porque nossa fé se manifesta por meio do nosso modo de viver e conviver. Pela maneira como lidamos com a vida, que pode nos surpreender. Mesmo não tendo certezas ou garantias quanto a esta vida, podemos ter certeza de que estamos sob o olhar atento do nosso Pai Celeste. Ele sabe o que faz e nos ama. Podemos sofrer pressões, mas não precisamos desanimar. Podemos ficar perplexos com o mal, mas não precisamos nos desesperar. Jamais seremos abandonados. Poderemos ser abatidos, mas não seremos destruídos. (2 Co 4.8-9)
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