Susanna Wesley era a mais nova de 25 filhos e foi mãe de 19. John, seu 15.º filho, fundador do metodismo, nasceu em Epworth, Inglaterra, na mesma cidade onde também nasceu Charles, seu 18.º filho, compositor de hinos. Ela suportou provações, mas nunca se desviou de sua fé e ensinou seus filhos a suportá-las também.
O lar de Susanna Wesley em Epworth era um lar cristão quase perfeito. Foi lá, em sua “igreja doméstica”, que ela plantou a primeira semente do metodismo e a manteve viva por meio de seus cuidados vigilantes. Seu filho John, fundador do movimento metodista, nunca se esqueceu dos cultos que sua mãe conduzia em casa nos domingos à noite. A princípio, ela os dirigia em sua ampla cozinha, mas, depois, com o aumento do número dos participantes, a pequena reunião espalhou-se por toda a casa e o celeiro.
John Wesley sentia que, se sua mãe podia ganhar almas, outras mulheres poderiam também se envolver nesse serviço de amor. Mulheres se tornaram auxiliadoras valiosas no movimento metodista devido ao encorajamento recebido de John Wesley.
Susanna Wesley foi a mãe do metodismo no sentido moral e religioso. Sua coragem, sua submissão à autoridade, a firmeza, a independência e o controle de sua mente, o fervor de seus sentimentos devocionais e a direcção prática dada a seus filhos brotaram e se repetiram muito visivelmente no carácter e na conduta de seu filho John.
Poucas mulheres na história possuíram a sensibilidade espiritual, o vigor e a sabedoria de Susanna Wesley.
O treinamento que Susanna Wesley deu a seus filhos foi mencionado na carta que ela escreveu a seu filho mais velho, Samuel, o qual também se tornou um pregador:
"Considere bem que separação do mundo, pureza, devoção e virtude exemplar são requeridas daqueles que devem guiar outros para a glória. Eu o aconselharia a organizar seus afazeres seguindo um método estabelecido, por meio do qual você aprenderá a optimizar cada momento precioso. Comece e termine o dia com aquele que é o Alfa e o Ômega e, se realmente experimentar o que é amar a Deus, você remirá todo o tempo que puder para o seu serviço mais imediato. Empenhe-se em agir sobre esse princípio e não viva como o resto da humanidade, que passa pelo mundo como palhas sobre um rio que são levadas pela correnteza ou dirigidas pelo vento. Receba uma impressão em sua mente, tão profunda quanto possível, da constante presença do Deus Grande e Santo. Ele está ao redor de nossos leitos e de nossas trajectórias e observa todos os nossos caminhos. Sempre que você for tentado a cometer qualquer pecado ou a se omitir de algum dever, pare e pergunte a si mesmo: “O que estou eu por fazer? Deus me vê!”
Ela praticava o que pregava a seus filhos. Embora tivesse dado à luz 19 filhos, entre 1690 e 1709, e fosse uma mulher naturalmente frágil e ocupada com muitos cuidados da família, ela separava duas horas a cada dia para devoção a sós com Deus. Susanna tomou essa decisão quando já tinha nove filhos. Não importava o que ocorresse, ao badalar do relógio, ela se retirava para comunhão espiritual.
Em sua biografia Susanna Wesley, a mãe do metodismo, Mabel Brailsford comenta:
"Quando perguntamos a nós mesmas como 24 horas podiam conter todas as actividades normais que ela, uma frágil mulher de 30 anos, era capaz de completar, a resposta pode ser achada nessas duas horas de retiro diário – no quanto ela obtinha de Deus na quietude de seu quarto: paz, paciência e uma coragem incansável."
As provações que Susanna suportou poderiam tê-la esmagado. Somente nove dos seus 19 filhos sobreviveram até a vida adulta. Samuel, seu primogénito, não falou até os 5 anos. Durante aqueles anos, ela o chamava “filho das minhas extremas provações” e orava por ele noite e dia. Outro filho asfixiou-se enquanto dormia; aquele pequeno corpo foi trazido a ela sem qualquer palavra que a preparasse para o que havia acontecido. Seus gémeos morreram, assim como sua primeira filha, Susanna. Entre 1697 e 1701, cinco de seus bebés morreram. Uma filha ficou deformada para sempre devido ao descuido de uma empregada. Alguns de seus filhos tiveram varíola.
Outras dificuldades a perseguiam. Dívidas cresciam e o crédito da família se esgotara. Seu esposo, que nunca foi um homem prático, não conseguia viver dentro do orçamento de sua família e, se não fosse pela gerência de sua mulher, com frequência não teriam tido alimento.
Sob o ponto de vista puramente material, a história de Susanna foi de uma miséria incomum, com privações e fracasso. Espiritualmente, no entanto, foi uma vida de riquezas verdadeiras, glória e vitória, pois ela nunca perdeu seus altos ideais nem sua sublime fé. Durante uma dura provação, ela foi ao quarto e escreveu:
"Ainda que o homem nasça para o infortúnio, eu creio, todavia, que sejam raros os homens sobre a Terra, considerado todo o curso da sua vida, que não tenham recebido mais misericórdia do que aflições e muito mais prazeres do que dor. Todos os meus sofrimentos, pelo cuidado admirável do Deus Omnipotente, cooperaram para promover meu bem espiritual e eterno… Glória seja a ti, oh Senhor!"
Em sua escola doméstica, seis horas por dia, durante 20 anos ela ensinou a seus filhos de maneira tão abrangente que eles se tornaram notavelmente cultos. Não houve sequer um deles no qual ela não tivesse impingido uma paixão pelo aprendizado e pela rectidão.
Certa vez, quando seu marido lhe perguntou exasperado: “Por que você se assenta aí ensinando a mesma lição pela 20ª vez a essa criança medíocre?”, ela respondeu calmamente: “Se tivesse me satisfeito em mencionar esse assunto somente 19 vezes, todo o esforço teria sido em vão. Foi a 20ª vez que coroou todo o trabalho”.
Ela começava a treinar seus filhos, tão logo eles nasciam, por um método de vida bastante rigoroso. Desde o nascimento, ela também começava a treinar suas vontades, fazendo-os perceber que deveriam obedecer aos seus pais. Eles eram até mesmo ensinados a chorar baixinho e a beber e a comer apenas o que lhes fosse dado. Comer e beber entre as refeições nunca era permitido, a não ser que estivessem doentes. Às 18 horas, tão logo as orações familiares tivessem terminado, eles jantavam. Às 20 horas, eles iam para a cama devendo dormir imediatamente. “Não era permitido em nossa casa”, essa mãe informa, “assentar-se perto da criança até que ela adormecesse.” O grande ruído que muitas de nossas crianças fazem era raramente ouvido na casa dos Wesley. Risos e brincadeiras, no entanto, eram sons habituais.
O bem-estar espiritual dos filhos interessava muito a Susanna. Ela separava uma hora por semana para estar particularmente com cada um dos filhos, a fim de conversar sobre assuntos espirituais. Ela lhes deu uma apreciação das coisas do Espírito e levou avante esse ensinamento até seus anos de maturidade. Mesmo já idosa, seu filho John ainda vinha até a sua devota mãe por conselhos.
Não é de se admirar que essa mãe, que tão frequentemente orava: “Dá-me graça, oh Senhor, para ser uma cristã verdadeira”, tenha produzido um grande cristão como John Wesley. “Ajuda-me, Senhor”, ela orava, “a lembrar que religião não é estar confinada à igreja ou a um cómodo, nem me exercitar somente em oração e meditação, mas é estar sempre na tua presença.”
Em outubro de 1735, a convite do General James Oglethorpe, fundador da Colónia da Geórgia, nos Estados Unidos, John e Charles Wesley foram até lá como missionários aos índios e colonizadores. Susanna se despediu de seus filhos e, ao fazê-lo, John expressou sua preocupação em deixar a mãe idosa. Mas ela respondeu: “Tivesse eu 20 filhos, eu me alegraria que todos eles fossem assim empregados, mesmo que nunca mais os visse”.
Ao retornar à Inglaterra, John reassumiu suas pregações em todo o país. Anos depois, Susanna teve o imenso gozo de ouvi-lo pregar, noite após noite a céu aberto, a uma congregação que cobria toda a encosta de Epworth.
Enquanto pregava em Bristol num domingo de julho de 1742, John foi avisado que sua mãe estava enferma e retornou às pressas. Na sexta-feira seguinte, ela despertou do sono para clamar: “Meu querido Salvador, tu estás vindo socorrer-me nos meus últimos momentos de vida?” Mais tarde naquele dia, enquanto seus filhos estavam ao redor de seu leito, ela disse: “Filhos, tão logo eu tenha sido transferida, cantem um salmo de louvor a Deus”.
Sendo filha de um pastor puritano e conhecendo a perseguição religiosa, Susanna queria que sua vida fosse útil para Deus. Quando criança, ela orava para que Deus a usasse para acender uma luz espiritual na Inglaterra que se espalhasse por todo o mundo. Deus respondeu a essa oração, mas não da forma que ela imaginava. Deus a chamou para servir como mãe, e seria seu filho John, um ministro anglicano ordenado, que experimentaria um despertar espiritual e daria início ao movimento metodista. E seu filho Charles, também ministro anglicano, daria à Igreja mais de 9 mil hinos inspiradores.
Seu filho Samuel disse uma vez à esposa que “algumas das pessoas verdadeiramente grandes eram aquelas que eram fiéis realizando coisas pequenas”. Não há dúvida de que as “pequenas” orações de Susanna ajudaram a mudar o mundo.
PEPITAS DE OURO DE SUSANNA WESLEY
Alguns dos métodos que ela utilizou como mãe
• Susanna mantinha um horário rigoroso em seu lar e era disciplinada e metódica na direcção de suas actividades diárias.
• Seus filhos eram ensinados sobre a importância da confissão. Quando eles faziam algo errado e o confessavam completamente, ela não os punia, mas os louvava por sua honestidade.
• Ela sempre recompensava a obediência.
• Quando era necessário disciplinar seus filhos, Susanna era moderada e gentil, mas muito consistente. Ela nunca se permitia ser manipulada pelo choro.
• Barulho nunca era permitido em sua casa.
• Respeito pelos outros era uma obrigação. A nenhuma das crianças era permitido invadir a propriedade de um irmão ou irmã por mais insignificante que fosse. Um centavo ou 25 centavos não podiam ser tocados se pertencessem a outrem.
• Todas as promessas feitas tinham de ser mantidas.
• Susanna não permitia que as crianças deixassem a casa sem autorização.
• Conferências semanais eram realizadas com cada filho, e ela os tratava de acordo com seus temperamentos individuais. (Susanna gastava duas horas ininterruptas todas as noites de quinta-feira com John Wesley.)
• Exercícios religiosos eram dados às crianças cedo e à noite. Todos eram ensinados a orar em alta voz, e a oração do Senhor era repetida cada manhã e noite.
• As crianças liam em voz alta as Escrituras todas as noites. Os filhos mais velhos liam para os mais jovens, e grande parte da noite era gasta com cânticos de louvor.
• Orações com toda a família eram realizadas todas as manhãs.
Eu insisto em que a vontade da criança deve ser dominada cedo. A obstinação é a raiz de todos os pecados e misérias; todo aquele que incentiva a obstinação numa criança garante seu naufrágio no futuro. Todo aquele que a educa e disciplina garante sua futura alegria e piedade. Quando consideramos que a religião está realizando a vontade de Deus, e não a nossa, o único grande impedimento para a nossa felicidade temporal e eterna é a nossa obstinação. Assim, nenhuma indulgência pode ser trivial e nenhuma negação deixa de ter recompensa.
O céu ou o inferno dependem somente disso; assim, o pai que estuda uma forma de vencer a obstinação dos filhos trabalha junto com Deus na renovação e na salvação de uma alma. O pai que se submete à vontade obstinada dos filhos faz a obra do diabo, torna a religião impraticável e a salvação inalcançável. Ao ceder a todas as suas vontades, condena os seus filhos, alma e corpo, para sempre.
Susanna Wesley
Extraído da publicação "À Maturidade", número 26, primavera de 1994, e do livro "Mães Que Mudaram o Mundo", Editorial Habacuc.